As pedras rolantes
Mel acorda cedo, senta-se na cama e agarra os chinelos. Sem fazer barulho, desliza e sai do quarto. As portas do corredor estão todas fechadas. «Boa! Ainda estão todos a dormir», pensa à medida que se aproxima da porta da rua e a abre.
No alpendre, calça os chinelos, desce os degraus e corre em direção ao muro da propriedade da avó Maria.
Ao longe, avista um vulto junto às pedras. «Deve ser o sr. Adalberto nos seus passeios matinais» Mas à medida que se vai aproximando, percebe que é a avó.
– Bom dia, avó! Tão cedo… – saúda Mel.
– Bom dia, minha querida. Não conseguias dormir? – pergunta Maria.
– Como é que sabias que nós tínhamos uma missão? Sempre soubeste?
– Sim. Desde sempre que soube que tu eras especial. Esta marca que aqui apareceu no dia do teu nascimento revelou-me isso mesmo – sorri a avó, passando a mão pelo coração gravado na pedra.
– Porque é que nunca me disseste nada? – pergunta Mel.
– Minha querida, o que é que querias que eu te dissesse? Que eras uma deusa? Tu ias acreditar? Se hoje o dissesses, alguém acreditaria?
– Não…
– Lembras-te que o teu pai não queria deixar-te ir à Grécia com os teus amigos? Sabes quem é que o convenceu do contrário?… Eu!
Maria observa os olhos verdes de Mel que parecem querer lacrimejar.
– Eu sabia o quanto era importante estarem todos em Cnossos no dia do eclipse lunar – continua Maria.
– Sabias?!? Mas como? – questiona a neta, agarrando as mãos da avó.
– Porque estava escrito, Maria Amélia! – responde Maria, largando as mãos da neta e virando-se para o muro feito de pedras irregulares de origem vulcânica. Sem dificuldade, a avó baixa-se e parece procurar qualquer coisa no meio dos tufos de vegetação que nascem entre as pedras. Com um só dedo, Maria empurra a pedra mais pequena, e esta parece ativar um mecanismo. Em poucos segundos, há seis pedras maiores que deslizam e rodam sobre si mesmas, mostrando outras faces. Como se fossem um puzzle, têm gravado o palácio de Cnossos e o eclipe lunar. Pouco depois, na beira do muro, ladeando o símbolo de Afrodite, outras pedras viram-se de forma aleatória. Todas apresentam desenhos gravados. Mel reconhece Stonehenge. Logo ao lado, o Terreiro do Paço. Mais abaixo, Palácio de Monserrate. Olha espantada para a avó e depois tenta reconhecer os outros desenhos. Um deles parece-lhe a Catedral da Sagrada Família, em Barcelona. Mas logo as pedras voltam a rodar sobre si próprias.
A avó sorri e diz a Mel:
– Esta é uma terra mágica, Mel, e tu és duplamente abençoada porque és herdeira dos atlantes e dos deuses! Porque é que achas que foste a primeira a encontrar o teu símbolo?
– Mas… mas… como é que sabes tudo isso? – pergunta Mel, incrédula, olhando para a avó e para o muro.
¬– Porque tudo isto estava escrito, Afrodite. Vocês não estão sós e há muito que eram esperados. Não foi isso que os guardiões vos disseram? – responde Maria, com um ar misterioso.
– Na verdade, nós somos os que menos sabemos, não é assim? – pergunta uma voz de rapaz, por detrás da avó e da neta.
Maria e Mel viram-se e encaram o rosto sério e preocupado de Zé. A mulher aproxima-se do rapaz, acaricia-lhe a face e com um olhar intenso diz-lhe:
– Assim é, Zeus. Vocês são os que menos sabem, mas, pouco a pouco, vão descobrindo, vão compreendendo o que vos é pedido e vão cumprindo. Vocês são os heróis da nova era e têm a nobre missão de salvar o mundo. Somos muitos os que estamos convosco, mas também os que estão contra vós. Por isso, é preciso terem cuidado!