Na praia das Maçãs
— Não percebo como é que aquelas pedras podem ter um significado tão especial!? — diz Pedro, enquanto descem em direção à praia, parcialmente coberta pela neblina matinal.
Após a visita ao Museu de Odrinhas, e depois de Mel ter tido um pressentimento, os cinco amigos organizaram uma «saída de campo», como dizem os professores de ciências. Objetivo: descobrir o local onde teriam estado, na praia das Maçãs, as aras que Francisco da Hollanda desenhou.
— Não são meras pedras, são aras — corrige Alice, logo interrompida pelo irmão, que simplifica: — São uma espécie de pedras de altar utilizadas em rituais.
Mas Pedro nem responde, só pensa em dar um belo mergulho nas ondas de espuma branca da maré vazia daquela praia maravilhosa.
A descida em direção ao areal continua. O cheiro a maresia é intenso. Descontraídos, os amigos caminham lentamente, observando a paisagem. Do lado direito, as casas brancas, umas ao lado das outras, começam a ficar cada vez mais pequenas e distantes, à medida que o grupo desce. No mar, ao longe, alguns surfistas aguardam a melhor onda, aquela que os vai trazer até à praia, de pé e em equilíbrio.
Zé suspira e lamenta não ter trazido a sua prancha. A irmã parece ler-lhe o pensamento e diz-lhe:
– Adorava que não tivéssemos vindo em trabalho! Vá lá maninho, outro dia aproveitamos e trazemos as nossas pranchas, tu fazes surf e eu umas manobras espetaculares de bodyboard!
– Como se tu fosses capaz de fazer manobras espetaculares! – responde o rapaz, divertindo-se a arreliar a irmã. Zé pousa a mochila na areia e diz:
— OK. Ponto de situação.
Os outros quatro param, obedecendo prontamente. Sentam-se e esperam que Zé fale. O rapaz abre a mochila e mostra o tablet.
— Conseguem ver?
O sol incide sobre o ecrã, mas as cabeças dos cinco sobre o tablet depressa fazem sombra e todos conseguem ver, com atenção, uma imagem onde se destacam várias aras formando um círculo.
Zé continua:
— Esta imagem mostra a disposição que as aras poderão ter assumido, mas não vale a pena pensar que somos nós que vamos encontrar as restantes, as que não estão em Odrinhas. A praia tem um ar normalíssimo, não parece que tenha havido escavações recentemente…
– E eu esqueci-me do meu balde, da minha pá e das forminhas… – interrompe Pedro, fazendo rir todos menos Zé. Olhando para a cara do primo, Pedro deixa de rir e faz um ar sério: — Mas podíamos ser nós a descobrir as pedras que faltam! Não fomos nós que encontrámos a tampa do sarcófago?
— Sim, Pedro. Mas não sei se é isso que se pretende de nós. Parece que devolvermos a tampa ao museu resolveu a situação…— responde António.
— E, provavelmente, só teremos de voltar a agir quando o Mal se manifestar novamente — completa Alice, sorrindo.
Tudo parece estar calmo e ninguém suspeitaria que aqueles cinco amigos, tranquilamente sentados na praia, tinham andado perdidos por misteriosos túneis, reposto a tampa de um sarcófago perdido e lutado contra uma terrível manifestação do mal. E agora, ali estavam, ao sol, sentados na areia quente, a recuperar daquela aventura.
Mel respira fundo, afastando dos seus pensamentos as últimas horas e sorri:
— Agora é preciso descanso, amigos! Os deuses da nova era também o merecem!
Os seus cabelos louros brilham ao sol no momento em que Mel tira o cinto e o guarda no enorme saco florido que pousou ao seu lado. Lá de dentro, tira o protetor solar e, a seguir, põe a mão no bolso dos calções e tira um elástico com o qual prende os caracóis soltos. Prepara-se para estender a tolha colorida quando o telemóvel toca.
— Mau. Mas quem é que vai estragar agora o meu sol?
Os outros entreolham-se e vão copiando os gestos da rapariga, tiram as toalhas e estendem-nas na areia. Zé guarda o tablet e dá por concluída a reunião. «Não vamos descobrir nada na Praia das Maçãs… Talvez à volta, lá em cima das arribas, mas não aqui, na praia», pensa para si, aborrecido por perceber que os outros só querem descansar, desfrutar do dia quente, e não pretendem descobrir as aras que faltam.
— Simmm? Já estamos na praia. Onde? Não te vejo! – grita Mel ao telemóvel, ao mesmo que tempo que olha em volta.
Os outros, curiosos, acompanham o olhar de Mel que, entretanto, se volta e acena. Ao longe, há alguém que responde ao seu gesto.
Mel desliga o telefone e faz uma careta:
— Os meus pais vieram deixar a Pipa ali, à entrada da praia. Vão a Sintra e ela pediu para vir ter connosco.
— Argh! — grunhiu Pedro, fazendo os outros rir.
Entretanto, Pipa aproxima-se e não cumprimenta ninguém. Alta e de óculos de sol, a rapariga atira a mochila para junto das coisas dos amigos da irmã. Zé e António entreolham-se.
– Bom dia! Como sempre estás muito bem-disposta! – reage Zé com sarcasmo.
– És sempre uma simpatia! – sublinha António, que tem pouca paciência para a irmã mais velha da amiga.
Pedro tapa a boca com a mão, para que Pipa não veja que ele está a rir-se. Pipa é a mais velha dos irmãos e consegue ser intimidante, admite o rapaz para si mesmo.
Pipa não responde aos rapazes e, dirigindo-se para junto da irmã e de Alice, coloca-se à frente das raparigas que continuam sentadas na areia. De pé, com as pernas afastadas e de mãos nas ancas, Pipa dirige-se-lhes num tom agressivo:
– Aproveitem bem o sol, raparigas! Em breve, iremos para Inglaterra.