Alice é lançada ao ar. Desta vez, não é por ser Atena e estar a usar os seus poderes. São os rapazes, Zé e António, que a atiram ao ar e gritam «Viva a Alice! Viva». Quando a rapariga regressa ao chão, todos se abraçam e riem, felizes: acabaram de saber que venceram o concurso de bandas internacionais. Eles, a representar Portugal, venceram a final que decorreu em Barcelona!
– Malta! Isto é espetacular! Mesmo depois daquela correria e de termos “perdido” a Núria, sermos escolhidos! – vai comentando, ainda incrédulo, Zé, que fizera umas aspas com os dedos das mãos quando se referira à vocalista da banda.
– Deixa-te de falsas modéstias ! – brinca a Mel. – Tu sabes que a música e a letra eram, sem dúvida, as melhores.
– Sim, e aquela cena do refrão ser em inglês foi uma grande ideia! Vocês viram a malta toda a acompanhar? – acrescenta o Pedro.
António não resiste e afirma alto e bom som: – Mas nada disso teria sido possível sem a ajuda da Alice.
A rapariga, envergonhada, desvia o rosto dos olhos verdes de António, sentindo-se ruborizar.
– Sim! E afinal sabia a letra. Ainda a estou a ver a levar o público ao rubro: «She will never be mine. I will never be hers» – imita Mel, sabendo que, desta forma, envergonha ainda mais a amiga.
Alice tenta desviar as atenções: – Sim, sim. Mas o que é mesmo espantoso é o prémio. Uma viagem ao Brasil! Que fixe!
– Agora só falta arranjar maneira de convencer o meu pai e os da Mel a deixarem-nos acompanhar os vencedores – diz Pedro, sem querer pensar na hipótese de não ir com os outros.
– Isso não vai ser problema. Não te preocupes. Além disso, ainda falta muito tempo. É só nas férias do verão. Põe-te mas é a estudar para o ano correr bem e teres boas notas – diz o primo.
Os cinco estão no hotel a fazer as malas. Preparam-se para se despedir de Barcelona, a cidade onde estiveram frente a frente com Medusa, como nunca antes tinha acontecido.
António tira os últimos objetos da gaveta do secretária do espaçoso quarto que partilhou com os amigos nas últimas noites. Ao olhar para o pesado livro com os desenhos de Gaudí, o rapaz lembra-se da promessa que fizera a Joan.
– Ei! Ainda temos uma última visita a fazer, antes de partirmos.
Quando os outros quatro olham para o rapaz, logo percebem a quem se refere.
– Não podemos partir sem devolver a Juan o livro mágico dos seus avós. Eu prometi-lho!
– Claro, António. E vamos ver como é que ele ficou, depois daquela trapalhada toda – acrescenta Zé, concordando com o amigo.
– Aproveitamos e despedimo-nos e até lhe contamos o que se passou no telhado da casa Milá – começa a dizer Pedro.
Alice interrompe Pedro:
– Não devemos dizer tudo. A Medusa continua à solta, por isso, ainda há perigo.
– Sim, a Alice tem razão – diz Zé. – Vamos até lá e deixem a conversa para mim e para o António. Diremos apenas o essencial e devolvemos o livro.
Concordando com o plano de Zé, todos se apressam.
No caminho até à loja do antiquário, António vai revendo cenas desta aventura. Pensa que o facto da sua mãe e do seu pai terem estado naqueles mesmos locais onde tudo se passou, de Pilar possuir uma fotografia deles e desta ser mágica era, no fundo, o mesmo sinal que a Mel tinha recebido nos Açores: estava determinado, desde sempre, o papel que cada um deles iria assumir na nova era dos deuses do Olimpo.
É um grito que traz o rapaz de volta à realidade, interrompendo os seus pensamentos.
– Olhem! Olhem! – repete Mel, apontando para o local da loja de Joan.
Estão do outro lado da rua do antiquário. No local onde antes estava a enorme montra, a porta com a placa pendurada a dizer «encerrado» e o toldo colorido, os cinco amigos, espantados, veem apenas uma montra coberta por jornais e na porta uma placa vermelha muito maior a dizer «Vende-se».
Atravessam, incrédulos, a rua e aproximam-se da montra. Espreitam e não conseguem ver nada. Está tudo escuro.
De repente, passa um casal que os observa. Param a olhar para os cinco amigos e acabam por lhes dizer que aquela pastelaria está «cerrada» há muito tempo. Os cinco entreolham-se. Pastelaria? Fechada há muito tempo?
– Devem estar enganados – diz António, olhando para o livro que traz nas mãos.
O casal insiste. É Zé que agradece e remata conversa.
Pega no telemóvel e faz uma pesquisa rápida, enquanto os outros continuam a reforçar que a loja era ali, claro, sem sombra de dúvidas.
De repente, Zé chama os amigos, que, ao verem o rosto pálido do rapaz, logo obedecem.
– Confirmei em três sites.
– Sim? Diz lá – pede Pedro, ansioso.
Nesse instante, sentem um súbito vento frio. Um arrepio percorre Alice e Zé diz:
– Nunca existiu um antiquário aqui!