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A Revolta dos Sátiros – O dia seguinte

 

– Que dia fantástico para festejar! – exclama Zé, ao olhar para o rio.

Apesar de ser primavera, os raios de sol que os cinco sentem a bater-lhes nos rostos fazem-lhes lembrar o verão que se aproxima.

– Foi uma grande ideia a dos avós: depois da celebração na igreja onde casaram, fazer a festa a bordo de um cruzeiro, em pleno Douro! – diz Alice, sorrindo.
– Sim e com toda a gente vestida como há 50 anos! – acrescenta Mel, vendo a sua imagem refletida numa janela da enorme embarcação. A rapariga enverga um vestido cintado e um enorme rabo-de-cavalo preso com um lenço às bolinhas. – Os vossos avós estão casados há meio século. Não é amoroso? – pergunta, olhando para Júlia e José, vestidos a rigor, que sorriem e conversam com um grupo de convidados.
– Sim, ó deusa do amor! É mesmo “amoroso”! – responde Pedro que traz brilhantina no cabelo, brincando com a amiga ao imitá-la a falar.
– Não é só amoroso, Mel, é mais do que isso! Para estar meio século casado é preciso as pessoas amarem-se muito, mas também terem paciência e respeitarem-se. Se não for assim, é impossível – contrapõe António, com um ar sério, ao pensar nos pais que se divorciaram.

Ao verem o semblante do amigo, os outros ficam em silêncio, sem saber o que dizer. Zé adivinha os pensamentos de António. Já se conhecem há muito e o rapaz lembra-se de como o amigo sofreu quando os pais se separaram e decidiram fazer caminhos diferentes, deixando-o a viver com uma tia e a sua família.
– Vá lá… Sabes que os teus pais estão bem e tu também ganhaste uma família espetacular. Os teus primos admiram-te e adoram-te! És como um irmão mais velho – diz Zé, tentando confortá-lo. – Além disso, tens grandes amigos! Quer dizer, se não contares com estes chatos…
– Zé!!! – grita Mel, indignada com o que acaba de ouvir.
Alice empurra o irmão e Pedro imita-a usando tanta força que Zé desequilibra-se e cai por cima de António. Este não consegue manter-se de pé e tomba para dentro da piscina, arrastando com ele o amigo.
Dentro de água, Zé e António riem sem parar, perante os olhares espantados da família e dos convidados dos avós.
– As vossas melhores roupas dentro da piscina… – censura a avó Júlia, ao aproximar-se. – Olhem os convidados todos a olhar para vocês… – continua.
– Deixa-os… Eles são miúdos, estão a divertir-se! – diz o avô José, abraçando a mulher e encolhendo os ombros. Júlia sorri, feliz por ver os netos contentes. «Estão tão crescidos e são todos tão bonitos!», pensa, orgulhosa, procurando os filhos e acenando-lhes.
Ao ver a reação da avó, Mel e Alice dão enormes gargalhadas. Pedro sorri e dá pequenos saltos de alegria por ver que todos estão alegres. «A minha mãe ia gostar tanto de estar aqui… De ver a felicidade dos avós …. e de saber que eu venci Dioniso…», pensa o rapaz, orgulhoso de si mesmo, fechando os olhos e recordando tudo o que se passou nos últimos dias. Mas, ao fazê-lo, desequilibra-se e também ele cai na piscina.
– Pedro! – grita o pai ao aproximar-se. Mário pousa o copo de vinho do Porto que traz na mão e abeira-se da piscina, pronto para ajudar o filho a sair de dentro de água. – Mas não há cruzeiro em que tu não vás parar à piscina?! – pergunta o pai, ao lembrar-se de quando estiveram na Grécia e Pedro salvou uma menina de morrer afogada.
Sorrateiramente, Ana, a mãe de Alice e Zé, aproxima-se do irmão e empurra-o, fazendo-o cair à água.
– Ana! – repreende o marido, atrás dela.
Dentro da piscina, os rapazes deixam de rir; e, do lado de fora, as raparigas ficam em silêncio até que Mário, ao vir à tona, puxa a perna à irmã, obrigando-a a mergulhar.
– Bem, acho que só faltam vocês… – diz Joaquim, empurrando a filha e Mel para a água.
– Ahhhh! – gritam as raparigas ao sentirem-se os seus vestidos completamente molhados.
– … E tu! – grita a avó Júlia para o genro fazendo-o cair dentro de água. Depois, olhando para o marido, prossegue: – José, deixa as crianças brincar e vamos, que ainda não cumprimentámos todos os convidados!
O marido recomeça então a conversar:
– Porque será que o sr. Dennis não veio?
Sem resposta, Júlia afasta-se de braço dado com o marido.